terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Quando falei às horas

Roda, ponteiro roda,
Roda e vai passando
Passando as horas,
Passando o tempo,
E contra o vento,
Está a passar
Estás a rodar

Tempos que são bons, que são ruins, outros afins
Mas sempre a passar
Horas, que são a fio, horas de cio, e hora “agá”
Mas ela vai passar

Roda, ponteiro roda,
Roda e vai passando
Passando as horas,
Passando o tempo,
E contra o vento,
Está a passar
Estás a rodar

Badala o sino, anuncia o pôr, anuncia a dor, e meu amor
Mas sempre a bater

Chuva, que não tem hora
Sol, que marca hora
Vento, ao troco do tempo
Chove, Sola, venta
Chuva de Sol rebenta
O meu amor não está mais a chorar
Pois ela vai passar

Tempos que são bons, que são ruins, outros afins
Mas sempre a passar
Horas, que são a fio, horas de cio, e hora “agá”
Mas ela vai passar

Roda, ponteiro roda,
Roda e vai passando
Passando as horas,
Passando o tempo,
E contra o vento,
Está a passar
Estás a rodar


Bossa de autoria P.Costa/A.Mejdalani

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

... Umas e outras poesias

Sofro de uma cardiopatia
Amante de uma doce guria
Por ela vivo, como morreria
Assim, num cantar a dizia:

-Te amo hoje, amanhã, todo dia!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ultimo Canto à Zé Firmino

Ao céu, compadre Zé Firmino 
Veja bem o que te digo 
Sou teu irmão desde menino 
E vou pra sempre estar contigo

Zé Firmino, foi pra mim meu Lampião 
Meu companheiro, de coração 
Ao meu Pai te entrego então 
Vá com ele e ganha asas, meu irmão

“Tião, ganhei asas, meu amigo 
Mas ainda assim vou estar contigo 
Há de meu Pai permitir, eu te digo

Serei sim, o teu guia protetor 
Teu anjo da guarda, com amor 
Livrarei sim ti de qualquer dor”

Versos escritos em Soneto Livre, com total liberdade de formas

sábado, 24 de outubro de 2009

Retrato Insano de uma dita Infância

Por que existem as janelas?

Já as portas não são belas?

“Porque apagariam as velas”

Por que as velas não são tortas?

“Queimariam como folhas mortas”

Quem declarou a folha morta?

“O mesmo que pisou em nossa horta”

Sem nem direito a uma cova?

“Menino! Fecha essa janela!

Você está com calor é uma ova!”

Humanitas

-Batatas! – Grito.
-Impossível! – Retruca o homem maltrapilho.
-Não, Quincas! Parece que sim.
-Nunca!
-Por que não deixa disso? Levanta-te e trabalha!
-Antes me sento nessas escadas, antes me sento diante essa igreja... Antes!
-Antes do que?
-Antes, prefiro mendigar a trabalhar!
-Quincas, Quincas. Pobre Quincas, Quincas Pobre. Batatas!
-De novo?
-Sim, Quincas, parece que venci.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Ah!

I

 

-Quer saber?

-Na verdade não.

-Mas eu vou falar

-Tenho escolha?

-Tem, ouvir.

-Ah!

 

II

 

-Cansei da erudição!

-Qual o problema?

-Não sei, cansei!

-O que vai fazer então?

-Criar, Inovar!

-Ah!

 

III

 

-Já sei!

-Diga...

-Vou assinar um mictório!

-Esquece, já fizeram.

-Ah!

 

IV

 

-Tá, como vou criar?

-Acho que primeiro tem que pensar.

-E como vou pensar?

-Parabéns, está no caminho certo!

-Ah?

 

V

 

-Posso fazer uma pergunta?

-Outra?

-Outra.

-Então não.

-Ah!

 

VI

 

-Ah?

-Ah...

-Ah!

-Ah, ah... Ah?

-Ah!

sábado, 5 de setembro de 2009

Peixe com Banana? Não!

 Costumo receber vistas freqüentemente em casa, e assim como todo bom angrense, sabemos de cor e salteado as informações básicas (e no mínimo inúteis para qualquer cidadão comum) sobre a cidade:

        -Há bastante ilhas aqui, né?

        -Trezentos-e-sessenta-e-cinco ao todo, uma pra cada dia do ano. 

        -Praquele lado que ficam as praias?

        -Tem mais de 1200 praias aqui, então tem praia pra todos os lados.

Até que...

          -Qual o prato típico daqui?

          -Peixe com banana!

          -Peixe com banana? – Como qualquer um, sempre a pergunta vem acompanhada de uma expressão curiosa – Você faz?

          -Não...

          -Pensei que todo mundo soubesse fazer o prato típico da cidade.

          -Não em Angra...

          -Mas já comeu, né?

          -Não...

          -Como não? Não é o prato típico?

          -É... Mas nunca comi.

-Mas conhece alguém que faça, claro!

-Também, não... Acho.

-Impossível! Já viu pelo menos?

-Nunca nem senti o cheiro.

     Numa dessas ocasiões acabei despertando no indivíduo a imensa vontade de comer o tal “peixe com banana”. Sério, não me pergunte como chegaram a essa receita. Uns dizem que é indígena, outros juram que é portuguesa, e uns, curiosamente, mais xiitas, culpam os japoneses!

Mas fomos à procura da misteriosa culinária angrense. Nosso primeiro problema: “onde encontrar um lugar onde faça essa loucura?”

Bom, encontramos numa banca de um guia da cidade com uma sessão intitulada: “onde comer?”. Assim, descartamos os mais afastados e iniciamos a jornada em todos os restaurantes caiçaras da cidade.

Passamos no primeiro endereço... Fechado, claro... O Faroeste Angrense aos domingos não nos ajudaria. Então pulamos logo para o décimo segundo endereço, que tinha um nome francês, algo como “Chef des mers”, apesar da cara de índio com um bigode fino levemente ondulado embaixo do nariz.

        -Bon Jour

        -É... Bom.

        -Tem Peixe com Banana?

        -Não...

        -Não, mas...

        -Creio que o restaurante do meu irmão te sirva.

        -Ah, então ta... Merci

        -Merci – Ainda tento entender porque ele repetiu o “Merci” como resposta, mas prefiro ficar na dúvida.

Fomos rumo ao tal restaurante do irmão do Pierre tupiniquim, que assim como o irmão, que insistia em ser uma cópia barata do Gérard Depardieu, esse presava mais pelo estilo Julio Iglesias, e tinha um restaurante, que posso estar enganado mas se chamava: “El point Del Sol”  

    -Buenos Dias

    -Buenos Dias! ¿Estás bien?– Num portunhol forçado

    -To sim, to sim... Teria Peixe com Banana ai, né?

    -Ixi, meu rei!

Viro pro sujeito ao lado, esfomeado e já espumando pela boca e até rio da situação. 

    -Não, então?

    -Estamos sem peixe...

    -Sem peixe? Como assim? Não são pescados aqui mesmo? Com esse mar todo aqui do lado você diz ‘estamos sem peixe’?

    -É, senhor, sabe, né? O peixe que “nóis” usa é importado e não se pesca nesses mar daqui...

    -Se não se pesca aqui, como ainda tem coragem de chamar isso de prato típico?

-Bom, sabe, né? Queremos oferecer o melhor da nossa terra.

-Você quer dizer “mar”, certo?

-Terra também, oras, tem a banana

-Então me vê só a banana

-Ixi...

-AH! Que foi agora?

-Estamos sem banana... Ainda não veio da Bahia...

-Não!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aventura de nativo em terra de turistas

Poucas cidades nesse vasto território tupiniquim atraem tanta gente na temporada de verão com tanto dinheiro para gastar quanto a pequena cidade onde eu nasci e fui criado. Angra dos Reis. Uma cidade um tanto quanto pacata nos outros nove meses do ano, mas um inferno de pessoas esbranquiçadas e com rostos avermelhados do sol, carregando suas câmeras, fotografando como loucos e parando-nos, pobres nativos que teimam em seguir com a própria vida, nas ruas: “Please, sir. Would you mind take a Picture of me?”. Reles mortais. Inocentes e ricos mortais. Não me surpreende as noticias do jornal da cidade (que curiosamente, chama-se “A Cidade”. Bem criativo, não?) nessa época:

GRINGO É ASSALTADO E TEM PERTENCES ROUBADOS

GRUPO DE SUÉCOS PEDEM AJUDA E SÃO ROUBADOS

AMERICANOS SÃO PRESOS COM 4 PROSTITUTAS NUMA LOUCA ODISSEIA SEXUAL


Opa! Essa última é tão freqüente quanto, e numa cidade onde todos conhecem todos se torna no mínimo constrangedor. Mas isso é pra outra história.

Não sou o tipo de pessoa que curte ir à praia, pelo menos não para sentar na areia e tomar um banho de mar, mas em raras ocasiões vou. É como diria meu pai: “Praia é boa quando há boa companhia. Quando não há, trate de arrumar uma logo que pisa na areia”. Enfim, numa dessas idas a esse lugar infernal, com altas inflações sobre cerveja, refrigerante e peixe, deparo-me com a mais pura malandragem brasileira:

-Please, man... Dólar-real?
-Claro, parceiro. Quanto tu tem?
-Não entender...
-Mônei... Ráu mutchi?
-50 dolars.
-Ô iés! Toma 20 real, valeu?


A partir desse dia, passei a não confiar na taxa cambial praieira, muito melhor trocar no bicheiro, que faz 50 dólares por 40 reais.
Isso sem contar com as internações de gringos por insolação e desidratação. Afinal, ninguém agüenta um calor de 24 graus, né?
Muito ainda há de ser desvendado sobre esse tipo de gente chamado: Turista. Enquanto continuamos com nosso minucioso estudo, voltamos a viver um pobre vida, de reles mortais, numa pacata cidade chamada Angra dos Reis.


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pausa para um chá

Certo dia, acho que por acaso (ou talvez realmente houvesse alguma intenção de acontecer), deparei-me na rua com um senhor, já aparentava bastante idade, à sua companhia, um cachorrinho.
Eu, sentado numa mesa que se avançava sobre a calçada, observava o senhor lentamente se aproximando. Levantei a xícara, bebi o chá, tornei-a a mesa e voltei a olhar para o senhor.
Seu rosto, embora cansado, o que era de se esperar depois de muitos anos vividos, não aparentava tristeza, suas mãos, embora trêmulas, ainda tinham forças para segurar a coleira de seu cachorrinho. Seu andar, apesar de lento, tinha um destino certo. Seus olhos eram profundos, negros, mas ainda viam a vida com esperança.
Vendo o senhor passar, pus minha xícara sobre a mesa e levantei-me. Entreolhamos-nos por alguns segundos, largou a coleira, logo seu cão veio me rodear. Vi uma lágrima caindo de seus olhos e escorrer em seu já marcado rosto.
Ainda que fosse inverno, senti calor naquele momento. Ainda que estivesse calmo, senti meu coração acelerar. Mesmo que aquela cena já tivesse ocorrido várias vezes, a cada nova, era como se fosse a primeira.
Com um leve sorriso no rosto, pronunciou poucas palavras:
 -Como você está, filho?
 -Vou bem, pai. Aceita um chá?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Histórias (Pela Nicole)

Ela estava em suas férias, na casa de seus primos. Em um belo dia, ficou até tarde vendo seriados com seu primo mais velho. Todos ja haviam durmido. Quando eles foram durmir, seu primo foi 1º ao banheiro. Ela o esperou. Quando ele saiu, ela entrou no banheiro, o espanto. O banheiro estava todo molhado, a pia, o chão, o vaso, tudo. Como ela sabia como era seu primo, ela criou uma suspeita. Foi ele. Foi sua falta de cordenação. Ela pensou, ''o que vai ser da namorada desse menino?''

Obs.: Apesar de escrito em 3ª pessoa, a própria Guria dos Pampas que escreveu.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Amores à Pendular

Qual ano eu não lembro bem, talvez fosse 1998 ou 1999, mas o que ocorreu está impresso em minha memória, e posso resgatá-la a qualquer momento, e ainda sorrir com as lembranças.
Era apenas um garoto, encantado com a curiosidade que o mundo despertava, no alto de meus seis ou sete anos. Árvores me chamavam a atenção, o mundo em geral me despertava um estranho interesse. Menos as pessoas. Não me lembro de ter olhado antes para os olhos de alguém e ter sorrido, ou de abraçado e dito apenas três palavras. Talvez pra mim aquilo fosse impossível, ou nunca tivesse existido. Não era autismo, apenas uma forma de amar o mundo a minha maneira.
Sentava-me num balanço, tinha medo de balançar, mas superava meus medos e levantava num curto vôo, que tinha destino certo em voltar. Assim superei todos os medos da minha vida, sabendo que uma hora, eu iria voltar, e estar no mesmo lugar de antes.
Senta-se no brinquedo ao lado, uma menina, mesma idade que eu tinha, creio. Olho-a rapidamente, e torno a subir... E descer... Olho-a novamente, desta vez ela desvia o olhar e solta uma pequena gargalhada. Subo e desço. Ela ri.

-Oi?
-Oi...
-Alexandre...
-Eu não vou dizer meu nome.
-Por quê?
-Nós não nos conhecemos, oras.
-Como não? Não acabei de dizer meu nome?
-Disse, mas...
-Mas...?
-Não sei...
-Como você se chama? Diz...
-Não, to envergonhada...

Ela ria, claramente estava envergonhada, suas bochechas estavam vermelhas, e os olhos encolhidos. Eu ria junto. Subia, e descia.

-Então?
-Então o que?
-Não vai me dizer nada?
-O que eu tenho pra dizer?
-Que tal seu nome?
-Não...

E tornava a rir, achava a cena engraçada, de uma maneira curiosa, que só uma criança poderia fazer. 

-Por que está me olhando assim e rindo? Eu estou estranho?
-Não sei... Só estou com vontade de rir.
-Você é estranha... Gostei de você.

Uma moça acenava a chamando. Havia chegado a hora de ela ir embora.

-Minha mãe está me chamando.
-Nem o seu nome?
-Um dia, talvez... Ainda nos veremos por ai...

Era seu mundo aquele. E eu, vivia no meu. Ela havia ido, sem ao menos me dizer o seu nome.

Subi... Desci...

Sugestão de música para ler:

The Devlins - Waiting

terça-feira, 7 de julho de 2009

Unæ Amičæ Pär Plasirtti

Si est pathos qüæ’stto sentiment qüæ tuer’me
Si më vidæ non más est vivae si non pär te
Et si më vino non más plasir’te

Demandaw për Bacco
Demandaw për Afroditte
Donner’me të más saboroso vino
Donner’me të más pure amaour

Pust, avec estto, forse ellæ amart’me
Pust, avec estto, iæ vidæ esttae en libertæ

[Update] Versão Atualizada

S’est pathe qüæstto sentimente qüæ tene’me
Si më vidæ est non plus vivaes si non à te
Et si më vine non plus plasir’te

Demandas Baccon
Demandas Affroditten
Danae’me të plus saboroso vine
Danae’me të plus pure amoure

Pust, avec estto, forse ellæ amartae’me
Pust, avec estto, libertæ iæ vidæ esttos

domingo, 5 de julho de 2009

Ille más horrible male d’illes homos – (En Luttiæni)

Amičæ, qüæ më coračion hačeaw pär tè
Quæ më amaour pär jamais për findartti
Pär qüæ estto malæ dormae en niëst vidæ
Jamais turne’lle un fuego rouge ardentae
Pust, Amartti est unæ malæ
Qüæ më màs horrible malamičo
Non hače qüæ soufrätti për est.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Cinco mini-sonetos

I

Do que te vale o platonismo
Quando o que conquistaras
Jaz onde nunca alcançaras?

II

Sabes do que falo quando amo-te?
Sabes como vivo quando perco-te?
      Deito-me a esperar-te
      Espero-te a olhar-me

III

Onde deita-se o esquecido orgulho
Ergo-me a aclamar diante a ti
Se tua voz é apenas barulho
Ainda assim lembro quando te vi

IV

Num doce encantador anseio
Por ti enamorado fiquei
Mas por mero ardor alheio
Assim nunca te conquistei

V

Vi sim, luas e estrelas
Brilhando ao céu
Ainda que nenhuma
     [como ti]
Reluzia a mim
Não como teus olhos
Não com cor de mel

domingo, 5 de abril de 2009

Poente Voo Veraneio - Soneto

Numa terra de cume veraneio
D'onde em passados senhores d'aceio
Viam gaivotas voando ao mar
Junto ao sereno erguiam-se a voar

Voava rumo ao impossível que não se via
Bailava no vento que se sentia
Contava estórias que já não se ouvia
E o velho senhor, de novo sorria

Em leve harmonia, serenava
Com'em doce melodia, dançava
E num luar lisonjeiro, encantava

O terso senhor sobre os pés ficava
Numa última olhadela a ela dava
A gaivota ao rubi poente voava

Quando a liberdade nos aprisiona?

“O homem está condenado a ser livre”, assim define o filósofo existencialista Sartre nossa liberdade. Somos, portanto, destinados a ser livre, e essa liberdade às vezes (por conta de nossos próprios atos) se torna nossa própria prisão.
Nunca antes, em toda história, o volume de informações geradas assumiu as proporções que vemos hoje. O acesso a informações através da mídia e da internet, é cada dia mais simples. Essa onda de novas informações, nem sempre imparciais, moldam aos poucos nosso caráter, como também nossa opinião sobre as coisas mundanas. 
Com isso, a liberdade que antes nos era garantida para pensar, criar e formular ideias e opiniões extingui-se com o passar do tempo. Muito por influencia da mídia, que nos impõe princípios e que manipulam idéias. Afinal, quem nunca após um jogo de futebol, numa conversa entre amigos, não repetiu o que foi dito pelo comentarista, ou ao comentar uma novela, tomou o mocinho como o bom sujeito e mortificou o vilão?
Em alguns locais e tempos, a liberdade (ou a falta dela) é (ou foi) um termo a ser discutido. Citemos o período da idade média, quando a liberdade de conhecimento era condenada pela Santa Inquisição. E o caso que talvez seja o mais conhecido (e denunciado) hoje: A liberdade chinesa, onde o uso da internet é extremamente limitado, e onde as programações ao vivo na televisão são proibidas. No Brasil, vivemos períodos sombrios, onde as informações eram censuradas e a liberdade de expressão considerada uma afronta ao governo.
Todos os dias somos inevitavelmente manipulados. Seja pela televisão, por atendentes de telemarketing ou por textos, como esse, que moldam nossa opinião. Vivemos numa época em que a livre circulação de informações tornou-se um limitador do pensamento crítico e reflexivo. Assim voltamos ao que foi levantado no primeiro parágrafo: A humanidade é livre. A liberdade se tornou nossa prisão. A humanidade vive numa prisão?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Um Breve Épico Moderno

Numa envolvente dança que exalava promiscuidade e sensualidade, ao som de batidas tribais, deixou-me encantado a nuance de uma moça que se encostava ao canto, isolada do resto das pessoas e apenas observava os movimentos quase que mecânicos daqueles que no meio do salão dançavam fazendo flexão com as pernas em posição fetal.
Aproximei-me da jovem moça, sentei-me ao seu lado e pedi ao homem que se dispunha atrás da bancada uma bebida de cor esverdeada. Virei-me à moça e a perguntei, “acompanhar-me-ia”, e sem olhar diretamente para mim respondeu-me num seco, “sim”.
A música ensurdecedora era uma barreira entre minha voz e teu ouvido, apenas ouvi teu nome nos primeiros dois minutos. “Jacineide”. O nome soava doce aos meus ouvidos, cada palavra, cada fonema era música. Jacineide, era minha lady.
Por um acaso do destino, guardas de nosso vilarejo das alturas entraram, desligaram o som e mandaram todos saírem. Era minha chance. Chamei minha bela para se esconder em minha casa. Ouvimos de relance os disparos das bestas de fogo. Isso não incomodava, Jaceneide estava ao meu lado, encostada em meu rosto. “Oh, Jacineide! Antes pudera eu ter te conhecido, e ter trocado murmúrios com você”. Num dialeto quase irreconhecível respondeu-me Jacineide, “Si non foz’pelo fan’que...”.

Um estampido silenciou minha doce Jacineide que sangrava em meus braços e murmurava palavras engasgadas. “Não, Jacineide, não vá. Não me deixe sozinho nesse mundo de discórdia e injustiças”. Fora pouco. Jacineide deu seu ultimo suspiro em meus braços.


[UPDATE] O texto é uma releitura parodiada do clássico "Romeu e Julieta", de Shakespeare