sábado, 5 de setembro de 2009

Peixe com Banana? Não!

 Costumo receber vistas freqüentemente em casa, e assim como todo bom angrense, sabemos de cor e salteado as informações básicas (e no mínimo inúteis para qualquer cidadão comum) sobre a cidade:

        -Há bastante ilhas aqui, né?

        -Trezentos-e-sessenta-e-cinco ao todo, uma pra cada dia do ano. 

        -Praquele lado que ficam as praias?

        -Tem mais de 1200 praias aqui, então tem praia pra todos os lados.

Até que...

          -Qual o prato típico daqui?

          -Peixe com banana!

          -Peixe com banana? – Como qualquer um, sempre a pergunta vem acompanhada de uma expressão curiosa – Você faz?

          -Não...

          -Pensei que todo mundo soubesse fazer o prato típico da cidade.

          -Não em Angra...

          -Mas já comeu, né?

          -Não...

          -Como não? Não é o prato típico?

          -É... Mas nunca comi.

-Mas conhece alguém que faça, claro!

-Também, não... Acho.

-Impossível! Já viu pelo menos?

-Nunca nem senti o cheiro.

     Numa dessas ocasiões acabei despertando no indivíduo a imensa vontade de comer o tal “peixe com banana”. Sério, não me pergunte como chegaram a essa receita. Uns dizem que é indígena, outros juram que é portuguesa, e uns, curiosamente, mais xiitas, culpam os japoneses!

Mas fomos à procura da misteriosa culinária angrense. Nosso primeiro problema: “onde encontrar um lugar onde faça essa loucura?”

Bom, encontramos numa banca de um guia da cidade com uma sessão intitulada: “onde comer?”. Assim, descartamos os mais afastados e iniciamos a jornada em todos os restaurantes caiçaras da cidade.

Passamos no primeiro endereço... Fechado, claro... O Faroeste Angrense aos domingos não nos ajudaria. Então pulamos logo para o décimo segundo endereço, que tinha um nome francês, algo como “Chef des mers”, apesar da cara de índio com um bigode fino levemente ondulado embaixo do nariz.

        -Bon Jour

        -É... Bom.

        -Tem Peixe com Banana?

        -Não...

        -Não, mas...

        -Creio que o restaurante do meu irmão te sirva.

        -Ah, então ta... Merci

        -Merci – Ainda tento entender porque ele repetiu o “Merci” como resposta, mas prefiro ficar na dúvida.

Fomos rumo ao tal restaurante do irmão do Pierre tupiniquim, que assim como o irmão, que insistia em ser uma cópia barata do Gérard Depardieu, esse presava mais pelo estilo Julio Iglesias, e tinha um restaurante, que posso estar enganado mas se chamava: “El point Del Sol”  

    -Buenos Dias

    -Buenos Dias! ¿Estás bien?– Num portunhol forçado

    -To sim, to sim... Teria Peixe com Banana ai, né?

    -Ixi, meu rei!

Viro pro sujeito ao lado, esfomeado e já espumando pela boca e até rio da situação. 

    -Não, então?

    -Estamos sem peixe...

    -Sem peixe? Como assim? Não são pescados aqui mesmo? Com esse mar todo aqui do lado você diz ‘estamos sem peixe’?

    -É, senhor, sabe, né? O peixe que “nóis” usa é importado e não se pesca nesses mar daqui...

    -Se não se pesca aqui, como ainda tem coragem de chamar isso de prato típico?

-Bom, sabe, né? Queremos oferecer o melhor da nossa terra.

-Você quer dizer “mar”, certo?

-Terra também, oras, tem a banana

-Então me vê só a banana

-Ixi...

-AH! Que foi agora?

-Estamos sem banana... Ainda não veio da Bahia...

-Não!

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