segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aventura de nativo em terra de turistas

Poucas cidades nesse vasto território tupiniquim atraem tanta gente na temporada de verão com tanto dinheiro para gastar quanto a pequena cidade onde eu nasci e fui criado. Angra dos Reis. Uma cidade um tanto quanto pacata nos outros nove meses do ano, mas um inferno de pessoas esbranquiçadas e com rostos avermelhados do sol, carregando suas câmeras, fotografando como loucos e parando-nos, pobres nativos que teimam em seguir com a própria vida, nas ruas: “Please, sir. Would you mind take a Picture of me?”. Reles mortais. Inocentes e ricos mortais. Não me surpreende as noticias do jornal da cidade (que curiosamente, chama-se “A Cidade”. Bem criativo, não?) nessa época:

GRINGO É ASSALTADO E TEM PERTENCES ROUBADOS

GRUPO DE SUÉCOS PEDEM AJUDA E SÃO ROUBADOS

AMERICANOS SÃO PRESOS COM 4 PROSTITUTAS NUMA LOUCA ODISSEIA SEXUAL


Opa! Essa última é tão freqüente quanto, e numa cidade onde todos conhecem todos se torna no mínimo constrangedor. Mas isso é pra outra história.

Não sou o tipo de pessoa que curte ir à praia, pelo menos não para sentar na areia e tomar um banho de mar, mas em raras ocasiões vou. É como diria meu pai: “Praia é boa quando há boa companhia. Quando não há, trate de arrumar uma logo que pisa na areia”. Enfim, numa dessas idas a esse lugar infernal, com altas inflações sobre cerveja, refrigerante e peixe, deparo-me com a mais pura malandragem brasileira:

-Please, man... Dólar-real?
-Claro, parceiro. Quanto tu tem?
-Não entender...
-Mônei... Ráu mutchi?
-50 dolars.
-Ô iés! Toma 20 real, valeu?


A partir desse dia, passei a não confiar na taxa cambial praieira, muito melhor trocar no bicheiro, que faz 50 dólares por 40 reais.
Isso sem contar com as internações de gringos por insolação e desidratação. Afinal, ninguém agüenta um calor de 24 graus, né?
Muito ainda há de ser desvendado sobre esse tipo de gente chamado: Turista. Enquanto continuamos com nosso minucioso estudo, voltamos a viver um pobre vida, de reles mortais, numa pacata cidade chamada Angra dos Reis.


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pausa para um chá

Certo dia, acho que por acaso (ou talvez realmente houvesse alguma intenção de acontecer), deparei-me na rua com um senhor, já aparentava bastante idade, à sua companhia, um cachorrinho.
Eu, sentado numa mesa que se avançava sobre a calçada, observava o senhor lentamente se aproximando. Levantei a xícara, bebi o chá, tornei-a a mesa e voltei a olhar para o senhor.
Seu rosto, embora cansado, o que era de se esperar depois de muitos anos vividos, não aparentava tristeza, suas mãos, embora trêmulas, ainda tinham forças para segurar a coleira de seu cachorrinho. Seu andar, apesar de lento, tinha um destino certo. Seus olhos eram profundos, negros, mas ainda viam a vida com esperança.
Vendo o senhor passar, pus minha xícara sobre a mesa e levantei-me. Entreolhamos-nos por alguns segundos, largou a coleira, logo seu cão veio me rodear. Vi uma lágrima caindo de seus olhos e escorrer em seu já marcado rosto.
Ainda que fosse inverno, senti calor naquele momento. Ainda que estivesse calmo, senti meu coração acelerar. Mesmo que aquela cena já tivesse ocorrido várias vezes, a cada nova, era como se fosse a primeira.
Com um leve sorriso no rosto, pronunciou poucas palavras:
 -Como você está, filho?
 -Vou bem, pai. Aceita um chá?