quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Soneto a ti

Dói-me o pesar de tais palavras

Num vulto lúgubre de tal manhã

Não me perdoais estirado em mágoas

Mas por meu amor, que te faz sã

 

Fazei-me jamais escolher cavalgar ao dia,

Não me interesso pela carruagem de Apolo

Mas se eu escolher a noite apenas sorria

À que o Olímpio iluminou, hoje dou colo

 

Aprendo com meus erros, com minhas dores

Apreendo em teu seio, meus sonhos e amores

Deita-me em teu ventre, onde me há de pores

 

Se tua escolha for comigo, disposto te levarei

Se estiveres ao meu lado, não te perderei

Ao dizer que me amas, no mesmo te responderei

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Quando falei às horas

Roda, ponteiro roda,
Roda e vai passando
Passando as horas,
Passando o tempo,
E contra o vento,
Está a passar
Estás a rodar

Tempos que são bons, que são ruins, outros afins
Mas sempre a passar
Horas, que são a fio, horas de cio, e hora “agá”
Mas ela vai passar

Roda, ponteiro roda,
Roda e vai passando
Passando as horas,
Passando o tempo,
E contra o vento,
Está a passar
Estás a rodar

Badala o sino, anuncia o pôr, anuncia a dor, e meu amor
Mas sempre a bater

Chuva, que não tem hora
Sol, que marca hora
Vento, ao troco do tempo
Chove, Sola, venta
Chuva de Sol rebenta
O meu amor não está mais a chorar
Pois ela vai passar

Tempos que são bons, que são ruins, outros afins
Mas sempre a passar
Horas, que são a fio, horas de cio, e hora “agá”
Mas ela vai passar

Roda, ponteiro roda,
Roda e vai passando
Passando as horas,
Passando o tempo,
E contra o vento,
Está a passar
Estás a rodar


Bossa de autoria P.Costa/A.Mejdalani

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

... Umas e outras poesias

Sofro de uma cardiopatia
Amante de uma doce guria
Por ela vivo, como morreria
Assim, num cantar a dizia:

-Te amo hoje, amanhã, todo dia!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ultimo Canto à Zé Firmino

Ao céu, compadre Zé Firmino 
Veja bem o que te digo 
Sou teu irmão desde menino 
E vou pra sempre estar contigo

Zé Firmino, foi pra mim meu Lampião 
Meu companheiro, de coração 
Ao meu Pai te entrego então 
Vá com ele e ganha asas, meu irmão

“Tião, ganhei asas, meu amigo 
Mas ainda assim vou estar contigo 
Há de meu Pai permitir, eu te digo

Serei sim, o teu guia protetor 
Teu anjo da guarda, com amor 
Livrarei sim ti de qualquer dor”

Versos escritos em Soneto Livre, com total liberdade de formas

sábado, 24 de outubro de 2009

Retrato Insano de uma dita Infância

Por que existem as janelas?

Já as portas não são belas?

“Porque apagariam as velas”

Por que as velas não são tortas?

“Queimariam como folhas mortas”

Quem declarou a folha morta?

“O mesmo que pisou em nossa horta”

Sem nem direito a uma cova?

“Menino! Fecha essa janela!

Você está com calor é uma ova!”

Humanitas

-Batatas! – Grito.
-Impossível! – Retruca o homem maltrapilho.
-Não, Quincas! Parece que sim.
-Nunca!
-Por que não deixa disso? Levanta-te e trabalha!
-Antes me sento nessas escadas, antes me sento diante essa igreja... Antes!
-Antes do que?
-Antes, prefiro mendigar a trabalhar!
-Quincas, Quincas. Pobre Quincas, Quincas Pobre. Batatas!
-De novo?
-Sim, Quincas, parece que venci.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Ah!

I

 

-Quer saber?

-Na verdade não.

-Mas eu vou falar

-Tenho escolha?

-Tem, ouvir.

-Ah!

 

II

 

-Cansei da erudição!

-Qual o problema?

-Não sei, cansei!

-O que vai fazer então?

-Criar, Inovar!

-Ah!

 

III

 

-Já sei!

-Diga...

-Vou assinar um mictório!

-Esquece, já fizeram.

-Ah!

 

IV

 

-Tá, como vou criar?

-Acho que primeiro tem que pensar.

-E como vou pensar?

-Parabéns, está no caminho certo!

-Ah?

 

V

 

-Posso fazer uma pergunta?

-Outra?

-Outra.

-Então não.

-Ah!

 

VI

 

-Ah?

-Ah...

-Ah!

-Ah, ah... Ah?

-Ah!

sábado, 5 de setembro de 2009

Peixe com Banana? Não!

 Costumo receber vistas freqüentemente em casa, e assim como todo bom angrense, sabemos de cor e salteado as informações básicas (e no mínimo inúteis para qualquer cidadão comum) sobre a cidade:

        -Há bastante ilhas aqui, né?

        -Trezentos-e-sessenta-e-cinco ao todo, uma pra cada dia do ano. 

        -Praquele lado que ficam as praias?

        -Tem mais de 1200 praias aqui, então tem praia pra todos os lados.

Até que...

          -Qual o prato típico daqui?

          -Peixe com banana!

          -Peixe com banana? – Como qualquer um, sempre a pergunta vem acompanhada de uma expressão curiosa – Você faz?

          -Não...

          -Pensei que todo mundo soubesse fazer o prato típico da cidade.

          -Não em Angra...

          -Mas já comeu, né?

          -Não...

          -Como não? Não é o prato típico?

          -É... Mas nunca comi.

-Mas conhece alguém que faça, claro!

-Também, não... Acho.

-Impossível! Já viu pelo menos?

-Nunca nem senti o cheiro.

     Numa dessas ocasiões acabei despertando no indivíduo a imensa vontade de comer o tal “peixe com banana”. Sério, não me pergunte como chegaram a essa receita. Uns dizem que é indígena, outros juram que é portuguesa, e uns, curiosamente, mais xiitas, culpam os japoneses!

Mas fomos à procura da misteriosa culinária angrense. Nosso primeiro problema: “onde encontrar um lugar onde faça essa loucura?”

Bom, encontramos numa banca de um guia da cidade com uma sessão intitulada: “onde comer?”. Assim, descartamos os mais afastados e iniciamos a jornada em todos os restaurantes caiçaras da cidade.

Passamos no primeiro endereço... Fechado, claro... O Faroeste Angrense aos domingos não nos ajudaria. Então pulamos logo para o décimo segundo endereço, que tinha um nome francês, algo como “Chef des mers”, apesar da cara de índio com um bigode fino levemente ondulado embaixo do nariz.

        -Bon Jour

        -É... Bom.

        -Tem Peixe com Banana?

        -Não...

        -Não, mas...

        -Creio que o restaurante do meu irmão te sirva.

        -Ah, então ta... Merci

        -Merci – Ainda tento entender porque ele repetiu o “Merci” como resposta, mas prefiro ficar na dúvida.

Fomos rumo ao tal restaurante do irmão do Pierre tupiniquim, que assim como o irmão, que insistia em ser uma cópia barata do Gérard Depardieu, esse presava mais pelo estilo Julio Iglesias, e tinha um restaurante, que posso estar enganado mas se chamava: “El point Del Sol”  

    -Buenos Dias

    -Buenos Dias! ¿Estás bien?– Num portunhol forçado

    -To sim, to sim... Teria Peixe com Banana ai, né?

    -Ixi, meu rei!

Viro pro sujeito ao lado, esfomeado e já espumando pela boca e até rio da situação. 

    -Não, então?

    -Estamos sem peixe...

    -Sem peixe? Como assim? Não são pescados aqui mesmo? Com esse mar todo aqui do lado você diz ‘estamos sem peixe’?

    -É, senhor, sabe, né? O peixe que “nóis” usa é importado e não se pesca nesses mar daqui...

    -Se não se pesca aqui, como ainda tem coragem de chamar isso de prato típico?

-Bom, sabe, né? Queremos oferecer o melhor da nossa terra.

-Você quer dizer “mar”, certo?

-Terra também, oras, tem a banana

-Então me vê só a banana

-Ixi...

-AH! Que foi agora?

-Estamos sem banana... Ainda não veio da Bahia...

-Não!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aventura de nativo em terra de turistas

Poucas cidades nesse vasto território tupiniquim atraem tanta gente na temporada de verão com tanto dinheiro para gastar quanto a pequena cidade onde eu nasci e fui criado. Angra dos Reis. Uma cidade um tanto quanto pacata nos outros nove meses do ano, mas um inferno de pessoas esbranquiçadas e com rostos avermelhados do sol, carregando suas câmeras, fotografando como loucos e parando-nos, pobres nativos que teimam em seguir com a própria vida, nas ruas: “Please, sir. Would you mind take a Picture of me?”. Reles mortais. Inocentes e ricos mortais. Não me surpreende as noticias do jornal da cidade (que curiosamente, chama-se “A Cidade”. Bem criativo, não?) nessa época:

GRINGO É ASSALTADO E TEM PERTENCES ROUBADOS

GRUPO DE SUÉCOS PEDEM AJUDA E SÃO ROUBADOS

AMERICANOS SÃO PRESOS COM 4 PROSTITUTAS NUMA LOUCA ODISSEIA SEXUAL


Opa! Essa última é tão freqüente quanto, e numa cidade onde todos conhecem todos se torna no mínimo constrangedor. Mas isso é pra outra história.

Não sou o tipo de pessoa que curte ir à praia, pelo menos não para sentar na areia e tomar um banho de mar, mas em raras ocasiões vou. É como diria meu pai: “Praia é boa quando há boa companhia. Quando não há, trate de arrumar uma logo que pisa na areia”. Enfim, numa dessas idas a esse lugar infernal, com altas inflações sobre cerveja, refrigerante e peixe, deparo-me com a mais pura malandragem brasileira:

-Please, man... Dólar-real?
-Claro, parceiro. Quanto tu tem?
-Não entender...
-Mônei... Ráu mutchi?
-50 dolars.
-Ô iés! Toma 20 real, valeu?


A partir desse dia, passei a não confiar na taxa cambial praieira, muito melhor trocar no bicheiro, que faz 50 dólares por 40 reais.
Isso sem contar com as internações de gringos por insolação e desidratação. Afinal, ninguém agüenta um calor de 24 graus, né?
Muito ainda há de ser desvendado sobre esse tipo de gente chamado: Turista. Enquanto continuamos com nosso minucioso estudo, voltamos a viver um pobre vida, de reles mortais, numa pacata cidade chamada Angra dos Reis.


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pausa para um chá

Certo dia, acho que por acaso (ou talvez realmente houvesse alguma intenção de acontecer), deparei-me na rua com um senhor, já aparentava bastante idade, à sua companhia, um cachorrinho.
Eu, sentado numa mesa que se avançava sobre a calçada, observava o senhor lentamente se aproximando. Levantei a xícara, bebi o chá, tornei-a a mesa e voltei a olhar para o senhor.
Seu rosto, embora cansado, o que era de se esperar depois de muitos anos vividos, não aparentava tristeza, suas mãos, embora trêmulas, ainda tinham forças para segurar a coleira de seu cachorrinho. Seu andar, apesar de lento, tinha um destino certo. Seus olhos eram profundos, negros, mas ainda viam a vida com esperança.
Vendo o senhor passar, pus minha xícara sobre a mesa e levantei-me. Entreolhamos-nos por alguns segundos, largou a coleira, logo seu cão veio me rodear. Vi uma lágrima caindo de seus olhos e escorrer em seu já marcado rosto.
Ainda que fosse inverno, senti calor naquele momento. Ainda que estivesse calmo, senti meu coração acelerar. Mesmo que aquela cena já tivesse ocorrido várias vezes, a cada nova, era como se fosse a primeira.
Com um leve sorriso no rosto, pronunciou poucas palavras:
 -Como você está, filho?
 -Vou bem, pai. Aceita um chá?