Costumo receber vistas freqüentemente em casa, e assim como todo bom angrense, sabemos de cor e salteado as informações básicas (e no mínimo inúteis para qualquer cidadão comum) sobre a cidade:
-Há bastante ilhas aqui, né?
-Trezentos-e-sessenta-e-cinco ao todo, uma pra cada dia do ano.
-Praquele lado que ficam as praias?
-Tem mais de 1200 praias aqui, então tem praia pra todos os lados.
Até que...
-Qual o prato típico daqui?
-Peixe com banana!
-Peixe com banana? – Como qualquer um, sempre a pergunta vem acompanhada de uma expressão curiosa – Você faz?
-Não...
-Pensei que todo mundo soubesse fazer o prato típico da cidade.
-Não em Angra...
-Mas já comeu, né?
-Não...
-Como não? Não é o prato típico?
-É... Mas nunca comi.
-Mas conhece alguém que faça, claro!
-Também, não... Acho.
-Impossível! Já viu pelo menos?
-Nunca nem senti o cheiro.
Numa dessas ocasiões acabei despertando no indivíduo a imensa vontade de comer o tal “peixe com banana”. Sério, não me pergunte como chegaram a essa receita. Uns dizem que é indígena, outros juram que é portuguesa, e uns, curiosamente, mais xiitas, culpam os japoneses!
Mas fomos à procura da misteriosa culinária angrense. Nosso primeiro problema: “onde encontrar um lugar onde faça essa loucura?”
Bom, encontramos numa banca de um guia da cidade com uma sessão intitulada: “onde comer?”. Assim, descartamos os mais afastados e iniciamos a jornada em todos os restaurantes caiçaras da cidade.
Passamos no primeiro endereço... Fechado, claro... O Faroeste Angrense aos domingos não nos ajudaria. Então pulamos logo para o décimo segundo endereço, que tinha um nome francês, algo como “Chef des mers”, apesar da cara de índio com um bigode fino levemente ondulado embaixo do nariz.
-Bon Jour
-É... Bom.
-Tem Peixe com Banana?
-Não...
-Não, mas...
-Creio que o restaurante do meu irmão te sirva.
-Ah, então ta... Merci
-Merci – Ainda tento entender porque ele repetiu o “Merci” como resposta, mas prefiro ficar na dúvida.
Fomos rumo ao tal restaurante do irmão do Pierre tupiniquim, que assim como o irmão, que insistia em ser uma cópia barata do Gérard Depardieu, esse presava mais pelo estilo Julio Iglesias, e tinha um restaurante, que posso estar enganado mas se chamava: “El point Del Sol”
-Buenos Dias
-Buenos Dias! ¿Estás bien?– Num portunhol forçado
-To sim, to sim... Teria Peixe com Banana ai, né?
-Ixi, meu rei!
Viro pro sujeito ao lado, esfomeado e já espumando pela boca e até rio da situação.
-Não, então?
-Estamos sem peixe...
-Sem peixe? Como assim? Não são pescados aqui mesmo? Com esse mar todo aqui do lado você diz ‘estamos sem peixe’?
-É, senhor, sabe, né? O peixe que “nóis” usa é importado e não se pesca nesses mar daqui...
-Se não se pesca aqui, como ainda tem coragem de chamar isso de prato típico?
-Bom, sabe, né? Queremos oferecer o melhor da nossa terra.
-Você quer dizer “mar”, certo?
-Terra também, oras, tem a banana
-Então me vê só a banana
-Ixi...
-AH! Que foi agora?
-Estamos sem banana... Ainda não veio da Bahia...
-Não!