sábado, 21 de fevereiro de 2009

Um Breve Épico Moderno

Numa envolvente dança que exalava promiscuidade e sensualidade, ao som de batidas tribais, deixou-me encantado a nuance de uma moça que se encostava ao canto, isolada do resto das pessoas e apenas observava os movimentos quase que mecânicos daqueles que no meio do salão dançavam fazendo flexão com as pernas em posição fetal.
Aproximei-me da jovem moça, sentei-me ao seu lado e pedi ao homem que se dispunha atrás da bancada uma bebida de cor esverdeada. Virei-me à moça e a perguntei, “acompanhar-me-ia”, e sem olhar diretamente para mim respondeu-me num seco, “sim”.
A música ensurdecedora era uma barreira entre minha voz e teu ouvido, apenas ouvi teu nome nos primeiros dois minutos. “Jacineide”. O nome soava doce aos meus ouvidos, cada palavra, cada fonema era música. Jacineide, era minha lady.
Por um acaso do destino, guardas de nosso vilarejo das alturas entraram, desligaram o som e mandaram todos saírem. Era minha chance. Chamei minha bela para se esconder em minha casa. Ouvimos de relance os disparos das bestas de fogo. Isso não incomodava, Jaceneide estava ao meu lado, encostada em meu rosto. “Oh, Jacineide! Antes pudera eu ter te conhecido, e ter trocado murmúrios com você”. Num dialeto quase irreconhecível respondeu-me Jacineide, “Si non foz’pelo fan’que...”.

Um estampido silenciou minha doce Jacineide que sangrava em meus braços e murmurava palavras engasgadas. “Não, Jacineide, não vá. Não me deixe sozinho nesse mundo de discórdia e injustiças”. Fora pouco. Jacineide deu seu ultimo suspiro em meus braços.


[UPDATE] O texto é uma releitura parodiada do clássico "Romeu e Julieta", de Shakespeare